Treino em Método Giraldi dá noção da vida de um policial
Minhas mãos estavam geladas, mal conseguia segurar a arma, eu suava frio. A minha visão de 180 graus foi reduzida drasticamente. Era como se um túnel branco tivesse se formado. Tirei o dedo da área de segurança e apertei o gatilho. Foi certeiro. Na vida real, eu teria matado ou, ao menos, causado sérios ferimentos. Em frações de segundos, foi como se eu conseguisse ver o projétil e o rastro de pólvora que saíram da pistola.
A adrenalina foi tão intensa na minha corrente sanguínea que deu uma sensação nunca antes sentida. Os batimentos cardíacos aceleraram. A emoção e a reação formaram uma combinação tão forte que diminuíram a minha capacidade de pensar.
O tempo foi curto, mas suficiente para que várias coisas passassem pela minha cabeça. Lembrei-me do trecho bíblico de Ezequiel 25:17, dito por Jules Winnfield , personagem de Samuel L. Jackson no clássico “Pulp Fiction”, de Quentin Tarantino. Antes de matar, ele sempre dizia: “O caminho do homem justo é rodeado por todos os lados pelas desigualdades do egoísmo e da tirania dos homens maus”. O trecho ecoava em meus ouvidos enquanto olhava fixamente o alvo e atirava.
Estava quase em estado de êxtase, mas logo retornei à realidade e apertei o gatilho novamente. Desta vez, tudo ainda pareceu mais rápido, não sabia se, de fato, havia atirado. Olhei para trás e vi a professora vindo em minha direção. Levei um “presta-atenção”. Na empolgação do primeiro tiro, acabei me desconcentrando e atirei para o chão. Voltei a me acalmar e vi que atirar não era tão simples quanto imaginava.
Olhei para o lado e vi que a sensação que tinha acabado de sentir não foi só minha. Uma garota tremia com a arma nas mãos. É comum a pressão arterial subir, a pupila dilatar e, em alguns casos, as pessoas desacostumadas ficarem à beira de uma síncope. No meu caso, foi apenas a adrenalina elevada ao extremo. Após o segundo tiro, vieram o terceiro, o quarto, o quinto. No final do dia, eu havia somado 120 disparos. O nervosismo ficou de lado. A facilidade de manusear a arma só aumentava.
O Método Giraldi de Tiro Defensivo da PM de São Paulo
Esta foi a minha primeira experiência com uma arma de fogo, a pistola .40., a mesma usada pelos policiais militares. Durante dois dias, participei do curso “Método Giraldi – Tiro Defensivo na Preservação da Vida” da Polícia Militar de São Paulo. O método é reconhecido pelo Comitê da Cruz Vermelha e pela Organização das Nações Unidas (ONU). A técnica é recomendada pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp).
Antes de 1997, a PM utilizava técnicas das Forças Armadas, mas o modelo não foi eficaz pois era incompatível com a realidade das ruas de São Paulo. Em 1998, adotou-se o modelo desenvolvido e aprimorado pelo coronel reserva da Polícia Militar, Nilson Giraldi.
A filosofia tem como um de seus pilares o treinamento policial – com base na simulação de situações de risco – para o uso racional da arma de fogo. Os policiais são instruídos a sempre tentar a negociação com os criminosos para que eles se entreguem sem que seja preciso atirar.
Outro ponto importante é que o método considera a verbalização a tônica do treinamento, assim como a proteção policial, sempre com o intuito de proteger a sociedade. Em todo momento, o policial conversa indicando que está ali para preservar a vida e que é encarregado do restabelecimento da ordem, mas sempre com a técnica necessária para se proteger e identificar qual a ameaça que se apresenta no transcorrer da ocorrência. O modelo de sucesso fez com que a PM exportasse a sua filosofia para outros estados e países.
Dois dias de muita ação
O ponto de partida do meu treinamento foi o Quartel General da Polícia Militar, na Luz, na região central de São Paulo. Participaram profissionais da área de imprensa, estudantes de comunicação social e militares das Forças Armadas.
Na quinta-feira (4) pela manhã, tivemos um ciclo de palestras para conhecer um pouco melhor a instituição e sabermos o que nos aguardava. Em uma das palestras, foram mostradas as 21 características que formam um perfil psicológico dos policiais. Na parte da tarde, partimos para a Escola Superior de Soldados (ESSd), em Pirituba, na zona norte da Capital.
Foi então que tivemos o primeiro contato com o principal material de trabalho do policial: a pistola .40. Após aprendermos a manuseá-la com segurança, passamos por uma série de tiros ao alvo em que o nível de dificuldade era aumentado a cada etapa. Os tiros foram feitos das mais diferentes formas, de pé, de joelhos e até mesmo deitado. Ao todo, foram 120 disparos. Mas o melhor estava guardado para o dia seguinte.
À prova de fogo
O sol ainda não havia nascido quando parti para o meu segundo dia. O treinamento, desta vez, foi em pistas que simulavam favelas, becos e vielas. Foi possível sentir na pele o drama vivido pelos policiais militares no dia a dia. Apesar de serem simulações, o nível de estresse era alto e, a todo momento, fui colocado sob pressão. O objetivo era que se aproximasse ao máximo da realidade do policial.
Por maior que seja a concentração, a possibilidade de erro era iminente. Nas pistas de simulação, o erro era permitido, fora delas poderia custar uma vida. Em frações de segundo, tive que tomar decisões sobre se atirava ou não. O estresse era elevado, o que fez com que a capacidade de raciocínio diminuísse. Em certo momento, disparei contra uma vítima fictícia desenhada no alvo. “Você matou a sua tia!”, gritou um dos instrutores, “Assassino!”, esbravejou outro.
Diversos tipos de ocorrência foram simulados. Em casos de seqüestro, coloquei à prova os ensinamentos passados sobre negociação. Nesse caso, a arma não podia ficar apontada para o seqüestrador, mas para baixo. Uma segunda pista, ainda mais complexa, colocava a tensão e o nervosismo em um nível ainda mais elevado. Bombas de gás, sirene de viaturas e pessoas gritando se misturavam com um cenário de criminosos e inocentes. No final do dia, após tirar o uniforme de treinamento e voltar à realidade, senti certo alívio por não estar na pele de um policial que arrisca a sua própria vida, todos os dias, em prol da sociedade e ainda é julgado de forma injusta, em muitos casos.
Elson Natário- Secretaria de Segurança Pública
A adrenalina foi tão intensa na minha corrente sanguínea que deu uma sensação nunca antes sentida. Os batimentos cardíacos aceleraram. A emoção e a reação formaram uma combinação tão forte que diminuíram a minha capacidade de pensar.
O tempo foi curto, mas suficiente para que várias coisas passassem pela minha cabeça. Lembrei-me do trecho bíblico de Ezequiel 25:17, dito por Jules Winnfield , personagem de Samuel L. Jackson no clássico “Pulp Fiction”, de Quentin Tarantino. Antes de matar, ele sempre dizia: “O caminho do homem justo é rodeado por todos os lados pelas desigualdades do egoísmo e da tirania dos homens maus”. O trecho ecoava em meus ouvidos enquanto olhava fixamente o alvo e atirava.
Estava quase em estado de êxtase, mas logo retornei à realidade e apertei o gatilho novamente. Desta vez, tudo ainda pareceu mais rápido, não sabia se, de fato, havia atirado. Olhei para trás e vi a professora vindo em minha direção. Levei um “presta-atenção”. Na empolgação do primeiro tiro, acabei me desconcentrando e atirei para o chão. Voltei a me acalmar e vi que atirar não era tão simples quanto imaginava.
Olhei para o lado e vi que a sensação que tinha acabado de sentir não foi só minha. Uma garota tremia com a arma nas mãos. É comum a pressão arterial subir, a pupila dilatar e, em alguns casos, as pessoas desacostumadas ficarem à beira de uma síncope. No meu caso, foi apenas a adrenalina elevada ao extremo. Após o segundo tiro, vieram o terceiro, o quarto, o quinto. No final do dia, eu havia somado 120 disparos. O nervosismo ficou de lado. A facilidade de manusear a arma só aumentava.
O Método Giraldi de Tiro Defensivo da PM de São Paulo
Esta foi a minha primeira experiência com uma arma de fogo, a pistola .40., a mesma usada pelos policiais militares. Durante dois dias, participei do curso “Método Giraldi – Tiro Defensivo na Preservação da Vida” da Polícia Militar de São Paulo. O método é reconhecido pelo Comitê da Cruz Vermelha e pela Organização das Nações Unidas (ONU). A técnica é recomendada pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp).
Antes de 1997, a PM utilizava técnicas das Forças Armadas, mas o modelo não foi eficaz pois era incompatível com a realidade das ruas de São Paulo. Em 1998, adotou-se o modelo desenvolvido e aprimorado pelo coronel reserva da Polícia Militar, Nilson Giraldi.
A filosofia tem como um de seus pilares o treinamento policial – com base na simulação de situações de risco – para o uso racional da arma de fogo. Os policiais são instruídos a sempre tentar a negociação com os criminosos para que eles se entreguem sem que seja preciso atirar.
Outro ponto importante é que o método considera a verbalização a tônica do treinamento, assim como a proteção policial, sempre com o intuito de proteger a sociedade. Em todo momento, o policial conversa indicando que está ali para preservar a vida e que é encarregado do restabelecimento da ordem, mas sempre com a técnica necessária para se proteger e identificar qual a ameaça que se apresenta no transcorrer da ocorrência. O modelo de sucesso fez com que a PM exportasse a sua filosofia para outros estados e países.
Dois dias de muita ação
O ponto de partida do meu treinamento foi o Quartel General da Polícia Militar, na Luz, na região central de São Paulo. Participaram profissionais da área de imprensa, estudantes de comunicação social e militares das Forças Armadas.
Na quinta-feira (4) pela manhã, tivemos um ciclo de palestras para conhecer um pouco melhor a instituição e sabermos o que nos aguardava. Em uma das palestras, foram mostradas as 21 características que formam um perfil psicológico dos policiais. Na parte da tarde, partimos para a Escola Superior de Soldados (ESSd), em Pirituba, na zona norte da Capital.
Foi então que tivemos o primeiro contato com o principal material de trabalho do policial: a pistola .40. Após aprendermos a manuseá-la com segurança, passamos por uma série de tiros ao alvo em que o nível de dificuldade era aumentado a cada etapa. Os tiros foram feitos das mais diferentes formas, de pé, de joelhos e até mesmo deitado. Ao todo, foram 120 disparos. Mas o melhor estava guardado para o dia seguinte.
À prova de fogo
O sol ainda não havia nascido quando parti para o meu segundo dia. O treinamento, desta vez, foi em pistas que simulavam favelas, becos e vielas. Foi possível sentir na pele o drama vivido pelos policiais militares no dia a dia. Apesar de serem simulações, o nível de estresse era alto e, a todo momento, fui colocado sob pressão. O objetivo era que se aproximasse ao máximo da realidade do policial.
Por maior que seja a concentração, a possibilidade de erro era iminente. Nas pistas de simulação, o erro era permitido, fora delas poderia custar uma vida. Em frações de segundo, tive que tomar decisões sobre se atirava ou não. O estresse era elevado, o que fez com que a capacidade de raciocínio diminuísse. Em certo momento, disparei contra uma vítima fictícia desenhada no alvo. “Você matou a sua tia!”, gritou um dos instrutores, “Assassino!”, esbravejou outro.
Diversos tipos de ocorrência foram simulados. Em casos de seqüestro, coloquei à prova os ensinamentos passados sobre negociação. Nesse caso, a arma não podia ficar apontada para o seqüestrador, mas para baixo. Uma segunda pista, ainda mais complexa, colocava a tensão e o nervosismo em um nível ainda mais elevado. Bombas de gás, sirene de viaturas e pessoas gritando se misturavam com um cenário de criminosos e inocentes. No final do dia, após tirar o uniforme de treinamento e voltar à realidade, senti certo alívio por não estar na pele de um policial que arrisca a sua própria vida, todos os dias, em prol da sociedade e ainda é julgado de forma injusta, em muitos casos.
Elson Natário- Secretaria de Segurança Pública
Muito bom o detalhamento.
ResponderExcluirSe Deus quiser ainda farei parte desta incrível corporação que tanto se arrisca para que, nossos filhos e outras familias possam ter um pouco mais de paz.
Agradecemos o elogio feito!
ExcluirContamos com o seu empenho e que um dia consiga ser um dos nossos!
Centro de Comunicação Social
Seria bom se todos pelo menos um dia passassem pela pele de um policial, para antes de criticar , parar para refletir um pouco.
ResponderExcluirAgradecemos a mensagem elogiosa!
ExcluirCentro de Comunicação Social
se der tudo serto eu me formarei como policial militar mais isso sera depois que eu terminar os estudos.
ResponderExcluirContamos com a sua dedicação e empenho para um dia se tornar um dos nossos!
ExcluirCentro de Comunicação Social
Sou policial civil no MS. Gostaria de fazer o curso. O que devo fazer? Aguardo contato
ResponderExcluirSou Guarda Civil em Capivari, interior de SP, pretendo fazer o curso. Qual o procedimento?
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